Como
se sabe, o Brasil livrou-se, há quase dois anos, do maléfico “lulopetismo”.
Passou
a ser governado por uma ampla coalizão
de homens bons, retos, tão honestos que nenhum deles foi à garra
policial, com as notáveis exceções de
Eduardo Cunha – imolou-se o libertador de nossa libertação, Geddel Vieira Lima,
que esqueceu uns trocados em um apartamento e Sérgio Cabral,que mandou seu
próprio filho deixar o cargo que tinha e ir votar pelo impeachment.
O
resultado desta “moralização” está nas primeiras páginas dos jornais de hoje:
Temer calcula ter R$ 30 bilhões para aprovar a reforma da Previdência, diz o
Estadão, acrescentando que a Caixa, sem dinheiro para financiar imóveis,
prepara um polpudo reajuste de 37% para seus diretores postos sob suspeita por
seu próprios auditores.
Não
é muito diferente do que eram as manchetes de ontem, anteontem, dois meses
atrás, ou seis, ou há um ano.
O
vistoso Brasil que exsurgiu do golpe de Estado está aí, com a vísceras expostas
e com instituições que assumem desavergonhadamente o papel de tutores políticos
da população, com o faz o chefe da Polícia Federal ao dizer a O Globo que seu
encontro secreto com Michel Temer foi “um pequeno erro de agenda”, que é “um
policial bem mandado” e que espera “auxiliar o cidadão nas próximas eleições”
com a exibição da versão policial de quem é honesto e quem não é.
Vamos
bem na economia, porém, e isso é o que importa. Desça do seu apartamento, fale
com zelador ou vá até a esquina onde estão os pedintes redivivos. Explique a
eles que a Bolsa vive um “boom” ou que os R$ 17 de reajuste do salário mínimo
são justos e corretos, porque a inflação acabou e, claro, a condenação à
miséria eterna, não.
E
vamos adiante em nossa jornada ao passado, dividindo os pratos de comida e as
doses da vacina da febre amarela, sim, mas jamais as fortunas acumuladas.
Mostre
a eles, também, que o desemprego, as obras paradas e a degradação dos serviços
públicos já precários são necessários para reduzir o déficit público pelo teto
de gastos e que trabalhar até a morte é necessário para poder continuar pagando
as aposentadorias, acabando com os privilégios que 99% dos aposentados jamais
tiveram.
É
evidente que você não os convencerá e é por isso que, como diz o excelente Luís
Costa Pinto em seu artigo de hoje no Poder360, “o lulismo é um movimento
fundado na certeza que muitos conservam: a de terem vivido entre 2003 e 2011 os
melhores anos de suas vidas. Naqueles tempos o país crescia, havia estabilidade
econômica, as taxas de desemprego caíram abaixo de 5% da População
Economicamente Ativa, houve mobilidade social entre diversos estratos e se
devolveu à média da população a capacidade de sonhar”.
Trocaram,
os grandes senhores, aqueles sonhos e nos deram o de um país santificado pela
moralidade que está aí, exposto num grau de torpeza que torna tudo imundo,
sejam os palácios ou as ruas.
E
como não podem convencer a maioria de que isso seja bom e justo, partem os
homens bons para seu último recurso, sua ultima ratio: em nome da moralidade,
todos estão proibidos de votar em Lula, ainda que o queiram.
Moro
assim decidiu e Moro locuta, causa finita. Não se contesta o homem que não tem
partido, não tem ideologia, não tem parcialidade, não tem nada que não sejam as
verdades que vêm de suas convicções, às quais os fatos e evidências devem se
dobrar e adequar, ou não virão ao caso.
Até
porque é pecado mortal criticar o santo que nos levou ao inferno.
http://www.tijolaco.com.br/blog/o-vistoso-brasil-da-moralidade/
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