Este
texto condensa, de maneira panorâmica, as questões teóricas e metodológicas que
são recuperadas de uma bibliografia que se propõe a discutir o pensamento
conservador na sua ação políticas. Fala-se muito em conservadorismo. Mas,
pensá-lo na cultura política soa como demérito ou assunto dado. A própria
expressão “conservadores” parece explicar tudo, seriam retrógrados. Ao apontar
que tal pessoa, grupo ou intelectual é “conservador” estamos pensando em quê?
Há questionamentos que exigem uma localização, de onde vem, quem são os
conservadores? Outros, que refletem sobre suas formas de abordagem ao que
compreendem como ação política.
Isto
é, chamar alguém de “conservador” não explica claramente a posição do sujeito.
Pensando o meu campo de trabalho, isso vale mais ainda para quem tem
preocupação em estudar intelectuais. Não é suficiente chamar um intelectual de
“conservador” para posicioná-lo historicamente. Talvez haja a necessidade,
também intelectual, de saber posicionar tais pensadores em ação histórica, de
modo a posicioná-lo como tal. Esse texto não trata de uma receita de detecção
de conservadores, mas talvez sirva para pensarmos o nosso momento histórico.
Ademais, convém para uma autorreflexão do leitor.
Roger
Scruton, pensador inglês, diz o seguinte a respeito do que é ser um
conservador:
O
negócio do conservadorismo não é corrigir a natureza humana ou moldá-la de acordo
com uma concepção ideal de um ser racional que faz escolhas. O conservadorismo
tenta compreender como as sociedades funcionam e criar o espaço necessário para
que sejam bem-sucedidas ao funcionar […]
Nossa
existência como cidadãos, participando livremente na polis, é possível graças
aos vínculos afetivos duradouros às coisas que nos são caras. Nossa condição
não é a do homo oeconomicus, buscando em tudo um modo de satisfazer os desejos
privados. Somos criaturas que constroem lares, em busca de valores intrínsecos
e o que nos importa são os fins, não os meios de nossa existência [1].
Ele
mesmo, como conservador, não é afeito às teorias que pensam o futuro. O autor
julga que é uma vanglória considerar os projetos de vida, para além da política
vivida. Mais importante é pensá-la pela funcionalidade do dia a dia. Ele tem
apego às circunstâncias. Há um esforço na manutenção de instituições que tenham
regras duradouras com “valores intrínsecos” aos quais nos prendemos pelo
sentimento, e que explicam uma vontade natural de querer mantê-las como algo
que é desejado: escolas, igrejas, bibliotecas, clubes, sociedades.
O
assunto “conservadorismo” é embaraçoso. Algumas vezes, o fato de pensá-lo,
acaba como sinônimo de aderência à questão. As justificativas são escusas, que
reconhecem a importância do assunto, ainda que o tema seja um aborrecimento. Há
quem diga que os conservadores sofrem desvantagem entre os acadêmicos e
intelectuais, porque há enfado nas opiniões que defendem. Os pensadores ditos
“progressistas” parecem construir realidades mais excitantes, ainda que falsas
e irreais aos olhos de um conservador. Conservadores se apresentam como aqueles
que recolocam a história nos trilhos da verdade e da realidade. Desconsideram o
movimento de generalização de suas verdades, ampliadas à posição de “opinião de
todos” como sendo uma ideologia. Equilibram-se às demandas do que chamam por
“maioria silenciosa”, grupo que, de forma ideal, guarda com cautela os
movimentos da história.
Existe
um problema sobre o local do conservador no plano do pensamento e da realidade.
A articulação social de conservadores para criar consensos políticos talvez
seja mais rápida, de modo que ideias de conservação circulam com mais fluência
pelos canais hegemônicos de comunicação e difusão. Há teorias sobre o
pensamento conservador, ditas “aristocráticas”, que estabelecem a ligação
direta entre as classes sociais privilegiadas e a difusão do pensamento
conservador, como forma de projeto social. Isso é, partindo da vontade de uma
elite administrativa, difunde-se um plano social ou político que passa pelos
canais de difusão de informações de maneira mais diretiva e sistemática. Nesse
aspecto, o pensamento conservador é caracterizado como ação que parte de uma
classe a outra e passa a ser absorvida por todos, exatamente porque ele é o
resultado de interesses de uma classe que procura legitimar-se por meio da
universalização de suas vontades, saberes e práticas.
Ao
curso de toda história brasileira vemos ações feitas em nome do pensamento
conservador ou a partir dele, destacadamente nos processos políticos. Podemos
percebê-lo como motor de vários movimentos tidos por evolucionistas,
progressistas, desenvolvimentistas, chamando-os por “busca pelo progresso”,
“modernização conservadora” etc.. De pronto não se trata de simplesmente
considerar o conservador como um sujeito apegado somente ao passado, senão por
uma forma peculiar de lançá-lo ao futuro, pensado como plano de reconstrução de
um passado imaginado. O conservadorismo está marcado em padrões seculares de
nossa cultura que permanecem inalterados, talvez “ressignificados”, como por
exemplo, a manutenção das desigualdades sociais, esta que é uma de nossas
conservações endêmicas preferidas.
O
conservadorismo também está ancorado em diferentes interpretações de Brasil,
fixando no imaginário intelectual, nomes identificados por este padrão de
pensamento que pensam o “novo” pela readaptação de ideias “velhas”. Exemplos
disso são Oliveira Viana, que busca no passado as raízes para o planejamento social
e político do seu presente; a fixação do pensamento autoritário em relação ao
Estado brasileiro na obra de Alberto Torres; no imaginário nacionalista de
Vicente Licínio Cardoso, que via nos analfabetos e ex-escravos, o mote do
retardamento do Brasil, um potencial humano morto, senão pela lapidação por
meio de seus conhecimentos por meio da educação pública; no entusiasmo de
Gustavo Corção, militante leigo do catolicismo, adepto da transposição das
representações da família cristã para a organização social etc..
Como
disse Norberto Bobbio, o conservadorismo só é explicado na sua base histórica,
diante de sua relação com posições alternativas ou contrárias. Logo, podemos
pensar os conservadores em coeficientes. Não dá para dizer que todos os
pensadores conservadores são “simplórios”. Mas é possível concebê-los como
sujeitos que seguem uma padronização no plano da articulação de seu pensamento.
Essa padronização na forma de apresentação deste tipo de pensamento é um dos
motes deste texto, podemos vê-lo sendo discutido ao longo da ideia.
Os
conservadores são críticos da ideologia porque a compreendem pela negativa, são
pejorativos. Não apresentam um conjunto ou sistema de ideias e persuasão
política, senão pela convicção de um padecimento social. Acomodam-se na
diluição de sua posição e disposição perante mundo, como o seu próprio
exercício de política, e assim sendo, procuram organizar a sociedade. Sua
ideologia é a própria negação de ideologias políticas, porque o ser conservador
se apresenta como uma atitude. É uma disposição existencial, uma espécie de
autoimagem projetada. Há um esforço do grupo em manter-se naturalmente
posicionado como planejadores sociais mais prudentes e, por isso, ajuizados.
Sujeitos conservadores pensam neles mesmos como o centro da natureza das
coisas, porque se julgam sensatos. Não defendem uma “política conservadora” o
tempo todo, porque não há uma necessidade para tanto.
Tem-se
a impressão de que conservadores se atêm à superfície das coisas. Isso porque
as ideias conservadoras são práticas e parecem solucionar os problemas de
maneira simplificada. O esclarecimento é obstado pela estereotipia. Quando mal
informados, ou formados, ou mesmo intelectualizados, fazem uma mesma operação
retórica de manipulação do pensamento visando o resguardo de bens e valores
particulares à sua vida, mesmo quando o assunto emerge sob o manto de “política
nacional”. Mas é nessa discussão de “superfície” que vemos a marcação dos
motivos, valores, razões e tradições que balizam, à maneira conservadora, a
estruturação da vida de todos.
Diz-se
que conservadores tendem a desdenhar de aspectos conceituais pensando o
espectro político. Para os pensadores conservadores, isso não se trata de
pensamento raso, mas de “ceticismo”. Nessa elaboração mental há um longo
histórico de crítica aos racionalistas que explicam a sociedade por tratados
matemáticos ou por extensas discussões filosóficas que criam prognósticos sobre
o funcionamento social. Conservadores se pautam pela ideia de que somos
imperfeitos intelectualmente. Possíveis mobilizações sociais dirigidas por
utopias são tidas como desperdício de tempo, como sonhos que fogem aos padrões
programáticos que já estão fundamentados em terreno sólido. Pensando este caso,
há quem defenda a tese de que o pensamento conservador é autônomo, pois ele
repercute a partir de qualquer estágio ou foco social, não sendo o resultado
direto de uma política social do tipo “aristocrata”.
Essa
tese ajuda a explicar o fato de que o conservadorismo não é privilégio de uma
elite de nascença, financeira etc. É possível que pessoas simplesmente queiram
resguardar algo de que gostam na sua prática política. A ideia de autonomia do
pensamento conservador explica a localização deste tipo de pensamento, mas não
esclarece a adesão dos pobres a uma prática política conservadora nascida de
uma expressão social diferente da sua.
Neste
caso, uma literatura histórica como a de E. P. Thompson é exemplar, ao nos dar
explicações para esse tipo de conciliação política. O historiador nos mostra os
motivos para que uma classe opte em disseminar e batalhar por interesses
sociais e políticos distintos aos seus. Talvez sentindo um privilégio; talvez
almejando um status; talvez por batalhar os pequenos poderes etc. Sobre isso
temos um exemplo interessante, bem recente. Durante a última eleição na cidade
de São Paulo, uma dita intelligentsia paulistana não se furtou de ser
conservadora ao qualificar os pobres da periferia de “tolos” e “inconsequentes”
porque elegeram João Dória Jr. Por outro lado, há também quem chame os
eleitores de Lula de “burros”. Ações conservadoras não partem somente de quem,
assumidamente, se coloca nesta posição. Nada mais conservador do que tratar
gente pobre por idiota, seja o sujeito posicionado à “esquerda” ou à “direita”
na política.
Conservadores
gostam da ideia de incorporação, buscam uma “unidade social”, mas não são
adeptos de uma totalidade política, a não ser por segregação de grupos e órgãos
considerados “doentes” ou “outsiders”. Não são fascistas em exercício
constante, mas alimentam a ideia de eliminação de ideias e seres divergentes
com facilidade, caso sintam medo da desestabilização social, mesmo quando ela
não existe.
Na
política, a atitude conservadora procura, acima de tudo, a autoridade e
participa na luta pelos fundamentos que a validam. Julga que nenhum cidadão
possui o direito natural que transcenda a sua obrigação de ser governado.
Autoridade surge da noção de família. O conservador defende sua cultura
ambiental, e as formas de intervenção deste solo, resguardado, são uma luta em
torno da preservação de sua identidade. Se há uma discussão sobre o direito do
exercício da autoridade entre conservadores, ela reside no aspecto tido por
natural que é o seu desempenhado como força e domínio. Autoridade surge como
uma conexão transcendente, que existe como “pureza”. Ela repercute da família
para o governo, e para representações de coesão “Pátria”, “Nação”.2
Detecta-se
um apego de pessoas conservadoras aos órgãos intermediários entre o Estado e a
família: grupos assistencialistas, benevolências variadas, atuantes nas
conhecidas instituições privadas da sociedade civil. Conservadores valem-se da
sensação de organicidade que esses termos passam, porque a causalidade se basta
como razão de causa e efeito. Não é a constituição interna das ideias
envolvidas, o seu conteúdo, que está em jogo, a despeito dele ser modificado de
tempos em tempos. O que parece valer é a existência de um sentimento, uma
predisposição natural pela organização que esses termos ou lugares evocam, pois
vale a pena fazer prosperá-la como sensação de segurança.
Essa
flexibilidade do pensamento conservador é resultado mesmo da política cética de
observação do real e por essa ideologia operacional pautada pelas
circunstâncias. Não há ressentimentos ao usar as ideias dos oponentes, de
pensadores progressistas, de neoliberais, neologismos, desde que passem à prova
do sucesso histórico, pois eles se veem como maleáveis no esforço de acomodação
do que defendem, seja no plano das sensibilidades, da estética, da política
etc.
O
caráter temporal é visto de maneira excêntrica. O passado não é uma
idealização, nem um terreno inexplorado a ser construído pela história, mas é o
reservatório de experiências da sociedade que permite aos homens preservar, no
presente, as tradições escolhidas como corretas, mas que emergem como naturais
e recomendadas porque sobrevivem ao tempo. No presente, é tido por “bom” essa
construção mental que é reformulada, com aparência de solidez e que se choca
com ideias fabulosas e com um futuro arriscado.
Novamente
Roger Scruton, crítico da Nova Esquerda Inglesa, pela “expropriação inteira de
todo o manancial da virtude humana” (cf. Thinkers of the new left), diz que o
conservador constrói o futuro à imagem do passado: “Assim como o passado contém
o futuro, também o futuro requisita o passado. O passado, tal como o cidadão o
entende, é o passado reorientado para o futuro”. Pensemos a tradição. Sabemos
que a tradição pode ser prosperada em direção ao futuro. Conservadores não
podem ser confundidos com “tradicionalistas”, pois a princípio, pode-se dizer
que todas as pessoas se orientam, mentalmente, por bases tradicionais, se
pensadas como operações pessoais que repassam os sentimentos do passado ao
futuro, como uma organização de nossa experiência.
No
caso do conservador, a tradição é o aspecto íntimo da sua atuação, pois são a
força de autoridade, não se tratando de uma invenção, mas de uma herança, que
se coloca como uma propriedade de um grupo específico e torna-se o modelo de
prosperidade do tempo presente, visando o futuro. Legado como benefício
trabalhado por gerações, uma sintaxe comum que prosperou. Para o conservador
essa ideia é mais sólida do que dizer que toda tradição é “inventada”.
Situações inventadas podem ser destruídas. A sintaxe comum de um legado,
perpassa a história pela vontade. Ainda que não seja explicado o que constitui
a dinâmica desta “vontade”, há valor no mérito, como um domínio na mão dos mais
aptos, como resultado final deste impulso, força anterior que permite ao sujeito
realizar pela determinação o que havia planejado previamente.
Esse
mesmo autor diz que o conservador segue a filosofia do “vínculo afetivo”. Há
uma ligação sentimental entre o conservador e as coisas que ama e que se deseja
proteger contra a decadência. Apela a essa relação dinâmica entre as gerações,
porque há sempre muita lamentação com a destruição daquilo que é caro às
pessoas. Danificar o que nos é caro é um prejuízo ao padrão de tutela, pois “a
interrompe com a relação aos que vieram antes e obscurece a obrigação para os
que virão depois”. Teorias apontam para este caso como um tipo de
conservadorismo “situacional”, ou seja, há um movimento de coalizão de forças
visando à defesa de grupos, instituições, ideias que estão sob ataque. Não se
trata de uma defesa em nome da positividade da causa, evidentemente. Vemos na
história que se conservam regalias, imunidades especiais, privilégios escusos
etc.
Russell
Kirk, em 1953, compilou em The Conservative Mind: from Burke to Eliot os dez
princípios conservadores a partir de obras de referência sobre o tema, quais
sejam: a crença numa ordem transcendente, duradora que prega virtudes;
aderência ao costume, à convenção e à continuidade; pautam prescrições; são
guiados por seu principio de prudência; prestam atenção ao principio da
diversidade, ainda que não gostem dos elementos destoantes; se contêm pela
lógica da imperfectibilidade; há vínculos entre liberdade e propriedade;
“suportam a associação voluntária, tanto quanto se opõem ao coletivismo
involuntário”; pregam a prudência sobre o poder e às paixões humanas;
compreendem que mudanças e permanências formam uma sociedade forte, quando
previamente reconhecidas e harmonizadas.
Já
Albert Hirschman fez algo parecido a partir de uma “cartografia” da retórica
dos conservadores em 200 anos. Diferente de listar os princípios da doutrina,
fez crítica às sínteses doutrinárias. Para o autor, essa retórica é marcada por
padrões argumentativos invariáveis ao longo do tempo, um caráter relativamente
fixo em seus “imperativos de argumentação”. Disto, percebe-se que os tais
fundamentos conservadores são transformados em sua adaptação ao tempo, mas o
que está em jogo são as combinações de argumentos em uma estratégia de
repetição de discursos. Não há uma “inovação criativa”.
O
pensamento conservador é uma “pseudo-doutrina”, pois é um “calculado
instrumental”, uma “ideologia programada”, uma “recriação inconsciente”
daqueles que são “obcecados pelo espectro onipresente e ameaçador” da crise e
se interessam, em primeiro lugar, em organizar um “plano de preservação”. O
grau de sofisticação do pensamento conservador reside nessas características
que exige a sua prosopografia, ou uma análise combinatória de padrões
contrários às contradições sociais. Vê-se ao longo do tempo a operação de três
teses, que podem ser combinadas, ora usadas separadamente, a depender da
ocasião: a tese da perversidade ou tese do efeito perverso; tese da futilidade
e tese do risco.
De
acordo com a tese da perversidade, qualquer ação deliberada para melhorar
alguma característica essencial da ordem política, social e econômica, serve
apenas para agravar o exato aspecto que se deseja atenuar. A tese da futilidade
sustenta que as tentativas de transformação social são inúteis, que nunca
conseguirão “fazer a diferença”. A tese do risco, por sua vez, defende que o
custo da mudança ou reforma proposta é demasiado alto para ser pago e as
eventuais melhorias “não compensam o risco de fazer perigar preciosas
conquistas anteriores”. Por isso, as formas para a transformação social são
gradativas, flexíveis, pausadas e pensadas…
Finalmente,
se pensarmos esse resguardo todo como um beneplácito tranquilo, nem parece
ruim. Mas, o resguardo puro de possíveis ideias de futuro não existe. Projetos
de futuro são frutos de batalhas de representações sobre a política, o moderno,
a modernidade, dentro da qual reside um quadro de oponentes que não possuem a
mesma condição material diante da luta. Deve-se considerar que nem sempre essa
transposição de temas entre as gerações é pacífica. Ora ela surge de maneira
reacionária, como se a sociedade ideal estivesse plantada naquilo que foi
perdido e se pudesse resgatar; ora, por nostalgia, um tanto mais grave e, às
vezes, doentia, quando acredita-se que o passado pode ser recuperado e trazido
ao presente. Ambas chegam a nós de maneira violenta, são autoritárias, por
vezes, francamente fascistas.
Destaca-se
que nem sempre um conservador é um reacionário. Os reacionários se posicionam
como críticos inflexíveis do tempo presente e da sociedade em funcionamento. Já
partem do princípio da decadência, corrupção, perda da moral amplamente
instaladas. Ondas de reação são ativadas para atacar elementos “progressistas”,
tais como, as reivindicações por direitos civis das minorias; ou as tentativas de
reformas o Estado-Providência; aos apelos juvenis nos anos 1960; as
reivindicações operárias nos anos 1970 etc.. Essa tal “reação” depende da
entrada de forças consideradas perturbadoras. E nem se pode dizer que o
reacionarismo, um condensado de sentimentos, é um privilégio de sujeitos da
direita e de conservadores. Sendo o resultado da suspeita, temor, raiva,
impressão, comoção, pressentimento, todos raivosos, pode servir a muitos.
Ao
final compreende-se que, a depender das condições historicamente dadas e dos
pontos de ativamento apresentados no tempo, conservadores podem se transformar
em doutrinários, dogmáticos e violentos, estando sujeitos aos pontos de
amplificação do medo e de distensão dos seus limites de controle. Vê-se na
história a divulgação e a prosperidade de movimentos conservadores motivando
grupos a partir de diferentes aspectos sensíveis: explorando insatisfações,
provocando raiva e hostilidades; reduzir suspeitas sobre determinados grupos ou
classes; criar perspectivas de coesão, de vontades comuns; agitar movimentos de
solidariedade etc. O pensamento conservador pode ser uma operação estratégica,
de grupos e sujeitos, com usos de diferentes aparelhos de divulgação e
circulação de ideias, em nome de uma coalizão urgente para dificultar o avanço
da sua oposição.
Disse
Arno Mayer: “A essência está na prática cujo conteúdo se modifica diante das
circunstâncias”. Em outras palavras, no conservadorismo a prática está acima da
teoria, o concreto acima do abstrato, o específico adiante do geral, a
realidade cotidiana é mais importante que a utopia. Há o incômodo de
experimentar a história em suas incongruências. Se tranquilos diante da
realidade histórica, permanecem pacíficos. Como vimos, o processo de
naturalização do conservadorismo é intrínseco ao seu proceder, dito pacato,
processual e sensato, por isso, correto e real. Mas, uma analogia possível com
a natureza relaciona-o ao vulcão Popocatépetl no México. Mais de 5 mil metros
da mais bela e estacionada paisagem nevada. Até que chega um dia…
Notas:
1
- SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Rio de Janeiro: Record, 2015.
2
- Não se trata do “argumento de autoridade”, de pensar um poder concebido de
maneira legítima, pois atado à responsabilidade, ou constituído pelo repasse de
influência ou credibilidade concedido pelos grupos sociais onde se está em
exercício. Esta autoridade resulta de um consenso daqueles sobre quem ela é
praticada.
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