As
cenas do desfile de neonazistas em Charlottesville, nos EUA, servem de alerta
para os inocentes úteis e inúteis que acham que a barbárie ocorrida na Alemanha
nunca mais se repetiria ou que essa hipótese era um reductio ad absurdum.
O
governador da Virgínia, Terry McAuliffe, declarou neste sábado, dia 12,
situação de emergência. O pedido foi feito para “ajudar o Estado a responder à
violência”, escreveu nas redes sociais.
O
protesto “Unir a Direita” reúne extremistas na cidade de 50 mil habitantes e
foi convocado para contestar a decisão de remover a estátua do general Robert
E. Lee de um parque.
Lee
foi um confederado que lutou e na Guerra Civil americana pelo Sul, tentando
impedir a abolição da escravatura.
Eles
são brancos, jovens, usam capacetes, seguram escudos e carregam a bandeira
confederada e cartazes com suásticas, além de fazerem o “sig heil”. Houve
confronto com antifascistas, que foram atropelados por um carro no início da
tarde.
A
polícia ordenou a evacuação, sob pena de prisão. Na noite anterior, os
extremistas passearam com tochas gritando “Vidas Brancas Importam” (“White
Lives Matter”) e “Fodam-se Bichas” (“Fuck You Faggots”), além de palavras de
ordem contra judeus, negros e imigrantes.
As
tochas são uma alusão à Ku Klux Klan, milícia fundada por ex-soldados sulistas
que acabou virando especialista em linchamentos por décadas. Seu jornal se
chamava, veja só, “Cidadão de Bem”.
Jason
Kessler, organizador da manifestação, alegou em comunicado que o movimento quer
defender a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de
expressão, e salvar os “grandes homens brancos que estão sendo difamados,
caluniados e derrubados nos EUA”.
Donald
Trump usou o Twitter, no qual costuma ser sempre direto e reto, para uma
declaração vaga: “Devemos estar todos unidos e condenar tudo o que representa o
ódio. Não há lugar para esse tipo de violência nos EUA. Vamos nos unir como um
só”.
Trump
teve o apoio dessa turma em sua campanha. Sem eles, Donald não seria eleito. E,
sem Donald, essa loucura não teria sido possível.
Nos
comentários sobre esta notícia nos portais do Brasil, a imensa maioria apoia os
direitistas. E, de novo, citam o nome do político que os representa: Jair
Bolsonaro.
Bolsonaro,
como lembrou o filósofo Vladimir Safatle, é um arauto do nosso “fascismo ordinário”:
Primeiro,
ele é um culto explícito da ordem baseada na violência de Estado e em práticas
autoritárias de governo. Segundo, ele permite a circulação desimpedida do
desprezo social por grupos vulneráveis e fragilizados. O ocupante desses grupos
pode variar de acordo com situações históricas específicas. Já foram os judeus,
mas podem também ser os homossexuais, os árabes, os índios, entre tantos
outros. Por fim, ele procura constituir coesão social através de um uso
paranoico do nacionalismo, da defesa da fronteira, do território e da
identidade a eixo fundamental do embate político.
Os
protestos desde 2013 ajudaram a tirar do armário um ódio nacional que estava
relativamente represado. Se nos EUA é racial, aqui é classista.
A
nossa classe média não tem mais receio de confessar publicamente que não gosta
de pobre, preto, nordestino. Por extensão, nem de petistas, comunistas,
bolivarianos etc. Tudo ladrão. Todos merecem morrer.
Na
Paulista, tias de 80 anos carregavam numa boa cartazes onde se lia “por que não
mataram todos em 64?” juntamente com camisetas com a estampa de Lula bêbado.
Nada
mais natural que se agarrem a um sujeito que dá o peso de um “afro descendente”
num quilombo em arrobas no clube A Hebraica. O mesmo que fala, num comício, que
o Brasil é um país cristão e que minorias “têm que se curvar”.
Bolsonaro
captura esse ressentimento da classe média que se sentiu “excluída” nos últimos
anos. Chega de vagabundo do Bolsa Família, de mulheres, dos veados e lésbicas
LGBT. Acabou a moleza dessa cambada de esquerdopatas. Agora é a nossa vez.
Charlottesville
é aqui. Pode esperar.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-protesto-neonazista-em-charlottesville-e-um-trailer-do-brasil-sob-bolsonaro-por-kiko-nogueira/
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