É
evidente que o golpe de estado que depôs da presidência da República uma mulher
honrada e de inquestionável compromisso público e republicano atendeu aos
interesses estratégicos dos rentistas, do agronegócio, dos grandes
conglomerados empresariais e dos grupos monopolistas da mídia brasileira.
No
entanto, é inegável que a quebra da ordem constitucional teve também uma nítida
dimensão misógina. Durante toda a campanha de sabotagem da qual o governo da
presidenta Dilma foi vítima, não faltaram charges e montagens gráficas
grosseiras no intuito de desqualificá-la por sua condição de mulher. O machismo
a serviço do golpe não mediu esforços para passar aos incautos a imagem de uma
mulher autoritária, de difícil trato e pouco afeta ao diálogo. Ou seja, uma
desequilibrada, como o machismo costuma pintar as mulheres hoje em dia.
E
neste primeiro 8 de Março – Dia Internacional da Mulher depois do golpe, se
olharmos para trás, os avanços e conquistas extraordinários das mulheres
merecem efusiva comemoração. Contudo, os indicadores alarmantes de violência
contra o sexo feminino e toda sorte de discriminação de gênero fortemente
presente na sociedade brasileira fazem dessa data um dia de luta.
Luta
por isonomia salarial com os homens – na média, exercendo as mesmas funções e
com maior escolaridade, elas ganham 70% do recebido pelos homens; luta por
empoderamento político – as mulheres, embora sejam 54% da população, ocupam
apenas 10% das cadeiras do Congresso Nacional. Algo semelhante acontece nas
empresas, no Judiciário, nos governos, em todas as casas legislativas, nas
Forças Armadas e demais instituições públicas e privadas.
Mas
esse Dia da Mulher deve servir especialmente para denunciar que o Brasil se tornou
um dos piores países do mundo para se nascer mulher. A violência contra o sexo
feminino não para de crescer em nosso país, conforme consta do relatório sobre
violação dos direitos humanos no Brasil em 2016, divulgado pela Anistia
Internacional.
Em
que pese contar com um arcabouço legal avançado para a proteção das mulheres,
como a Lei Maria da Penha, que está completando dez anos, e a Lei do
Feminicídio, as taxas de violência física (inclusive letais) e psicológicas
registradas ano após ano no Brasil são motivo de vergonha nacional.
Reportagem
publicada pela revista CartaCapital desta semana exibe dados estarrecedores : o
Brasil é o 5º colocado no ranking mundial de assassinatos de mulheres, com 13
feminicídios por dia, cujas vítimas, em média, têm entre 15 e 29 anos; 50,3%
dos homicídios são cometidos por familiares; entre 2003 e 2013, o número de
mulheres negras assassinadas cresceu 54%; 527 mil estupros acontecem
anualmente; 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados, amigos ou
conhecidos; em 70% dos casos as vítimas dos estupros são crianças ou
adolescentes.
Entidades
feministas e de direitos humanos apontam, entre os fatores responsáveis pelo
aumento vertiginoso da violência contra a mulher, a dificuldade para a
aplicação da lei, fruto da cultura machista presente na polícia, no Ministério
Público e no Poder Judiciário. Com frequência, esses operadores do direito,
contrariando todas as evidências, se negam a enquadrar agressores de mulheres
na legislação específica, optando por considerá-los autores de lesões
corporais.
Nenhuma
nação que se pretenda civilizada pode conviver com uma realidade como essa.
Viva a luta das mulheres !
* Wadih Damous
é deputado federal (PT-RJ).
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2017/03/8-de-marco-apos-golpe-contra-uma-mulher.html
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