Fico
admirado com a quantidade de pessoas que ultimamente tem empunhado a bandeira
do combate à corrupção, demonstrando uma indignação que chega às raias de uma
ira irrefreável, violenta e imprevisível. Clamam por punição imediata e
exemplar, ainda que para tanto tenhamos que encurtar o caminho, passando por
cima de princípios processuais e penais criado ao longo dos séculos justamente
para tentarem refrear o abuso punitivo de soberanos e estados.
Pura
hipocrisia destes falsos moralistas que se autodenominam salvadores da pátria.
Podemos citar como exemplo, uma porção de figuras desprezíveis de nosso
sofrível mundo político que foram às ruas nas manifestações de 15 de março,
momento em que a sedizente elite do Brasil protestou veementemente
contra o partido que trouxe um pouco de inclusão social para milhões de
brasileiros que viviam à margem das políticas públicas. Sim, eles não se
conformam com gente da periferia ultrapassando os limites dos territórios que
antes eram privilégios exclusivos deles.
Pois
passados alguns dias e lá estavam muitas destas pessoas sendo citadas nas
manchetes de alguns dos escândalos que só foram desvendados agora porque Lula
deu à polícia federal uma maior autonomia e independência.
Infelizmente
algumas destas operações sofreram um desvirtuamento em virtude de uma espécie
de "doping midiático" injetado pela imprensa venal que objetivando golpear a
democracia, acabou criando nas multidões incautas um delírio punitivo que, se
em um primeiro momento pretendia ferir de morte tão somente o partido da
Presidenta, acabou perdendo o controle, adquiriu vida própria e atingiu muitos
outros partidos, empresas e figurões da elite econômica brasileira. Muitos
deles pessoas que estiveram marcando presença nas manifestações fazendo selfies
e bradando que não agüentavam mais esta “corrupção que tomou conta do Brasil”,
tentando fazer com que o povo acreditasse que realmente ela não é esta “velha
senhora” a que se referiu a nossa presidenta e que ela não habita todo o
planeta desde os tempos bíblicos.
No
dia das manifestações, todos eram senhores e senhoras de vida ilibada que saíam
às ruas para darem um fim na corrupção; dias depois, muitos deles nas manchetes
policiais enredados em escândalos nos quais estavam envolvidas grandes quantias
de dinheiro.
E
não para por aí, já que muitos destes que saem pelas ruas a protestar não
sabem, mas já incorreram no crime da corrupção. Sim, pois embora pareça uma
coisa inocente, aquele "acerto" com o guarda de trânsito que vai aplicar uma
multa, o dinheiro para o “cafezinho” ou a “cervejinha” que repassamos para
algum servidor público para obtermos uma vantagem qualquer, ainda que de
pequena dimensão, também é corrupção. Ontologicamente, a corrupção independe da
quantificação monetária. Ela será sempre corrupção e deverá ser punida com uma
pena de reclusão que pode ir de dois a doze anos de prisão, seja ela ativa ou
passiva, tudo de acordo com a gravidade do ato.
Assim
sendo, não se esqueçam senhores detratores e justiceiros dos corruptos. O vírus
da corrupção habita dentro de todos nós. Ele pode estar adormecido lá no íntimo
de cada um, nas profundezas mais cinzentas de nossas almas, mas em muitos
casos, se encontrar as condições e circunstâncias certas, ela pode acordar e aflorar
de maneira incontida e exuberante. Aliás, talvez aí resida o profundo temor que
algumas destas pessoas demonstram da tal corrupção, pois provavelmente saibam
que possuem uma certa fragilidade de caráter e sendo assim são mais suscetíveis
de serem contaminados por ela.
Muitos
sucumbirão e alguns serão flagrados, passando a ser a próxima bruxa a ser
caçada de forma brutal. Ah, mas agora tudo muda de figura. Neste momento muitos
daqueles que esbravejavam clamando por atitudes inquisitórias em relação aos
corruptos com a eliminação até mesmo do devido processo legal para a aplicação
de uma punição imediata, passarão surpreendentemente a verberar pelo resgate
daqueles princípios que eles mesmos ajudaram a jogar no lixo.
Mas enquanto isto não acontece, eles se sentem seguros,
sempre afirmando que dentro de suas casa, de suas família, todos são pessoas
“de bem” que, com suas condutas irrepreensíveis, nunca incorrerão em pecados ou
em quaisquer ilícitos penais. Para eles, a corrupção mora ao lado e nunca ultrapassará
os limites de seus domínios, pois estes constituem uma espécie de templo de
pureza, um último e inexpugnável reduto de moralidade deste planeta.
De
qualquer maneira, o vírus está lá adormecido, latente, à espera das condições
certas para eclodir e nos colocar todos à prova. Quantos resistirão quando se
defrontarem com a sedução desta mistura fatal de corrupção e cobiça? Enquanto a
situação propícia não ocorre, muitos continuarão afirmando e acreditando que a
corrupção mora ao lado.
Jorge
André Irion Jobim
Nenhum comentário:
Postar um comentário