Ao
contrário do que eu sempre imaginava, o Supremo Tribunal Federal também é uma
das muitas arenas onde se digladiam as vaidades pessoais. O pior de tudo é
quando estas batalhas não são travadas com verborragias rebuscadas, citações de
autores conceituados e argumentações tão refinadas quanto complicadas e
passamos para as atitudes grosseiras e para a retórica do coice para lá levadas
pelo Ministro Joaquim Barbosa com toda a sua truculência e intolerância a cada
vez que se depara com qualquer um que ouse contrariá-lo.
Para
nós, mesmo aqueles que militam na área do direito, o STF era como uma espécie
de Olimpo, uma montanha na qual se encastelava o suprassumo do poder
judiciário, sempre inatingível e distante dos reles mortais, eis que nela
habitavam somente aqueles senhores doutos, sisudos, de vida estóica, quase
espartana, dedicados tão somente às questões de distribuir justiça.
É,
mas descobrimos que isso não tem correspondência com a verdade. Bastou que se
retirasse a névoa que a cercava e houvesse permissão para que seus trabalhos
fossem expostos na mídia e pronto: eles deixaram claro que também são mortais,
muitas vezes em sua acepção mais rasteira e, a exemplo da maioria dos membros
dos demais poderes, alguns ali estão para adquirirem notoriedade diante dos
holofotes midiáticos, seduzidos que são pela fama fácil e a qualquer preço.
Pois
foi sob o influxo destes anseios de celebridade e não de justiça que muitos dos
ministros de nosso tribunal constitucional deixaram que recaíssem sobre ele as
nuvens cerradas da inquisição e do obscurantismo durante o julgamento da Ação
Penal 470, fazendo com que a maioria julgasse de acordo com os desígnios da
imprensa manipuladora.
Eu
que no início me postei para acompanhar todo o julgamento imaginando que muito
iria haurir do tal notório saber jurídico dos ministros, ao começar a ouvir os
votos e assistir aos procederes de alguns deles, fui tomado de uma grande
desilusão e revolta, pois naquele momento eu começava a desacreditar no sistema
jurídico que eu tanto exaltava em momentos anteriores.
Tornei-me
um cético em relação ao poder judiciário em virtude do retrocesso que
configurou este julgamento que denominam mensalão. E minha atual visão não é em
virtude de eventuais ideologias políticas. Se tivesse sido um julgamento dentro
dos parâmetros e princípios que eu sempre aprendi desde os tempos da faculdade,
eu estaria conformado. Mas não foi e o tempo irá comprovar isto. Ainda iremos
reconhecer este julgamento como um grande erro histórico.
Tive
o desprazer de assistir a ministros que deveriam ser dotados do notório saber
jurídico julgando como se inquisidores fossem ao invés de buscarem
incansavelmente a justiça em sua mais lídima acepção.
Ainda
imaginando que eles poderiam corrigir os erros cometidos e que algo de novo
pudesse acontecer durante o julgamento dos embargos declaratórios, acabamos nos
desiludindo e tudo o que vimos foi a pusilanimidade de alguns novos ministros
que tremeram como varas verdes no momento de refazer a verdade real, e não
ousaram contrariar os acessos de ira de seu chefe, cuja opinião reinou
absoluta.
Em
sendo assim, caminhamos céleres rumo à consolidação de um erro judiciário
transparente e vexatório que irá conduzir uma injustiça irreparável. Afinal,
trata-se da liberdade de pessoas que estão sendo atropeladas por interesses
rastejantes.
Infelizmente,
precisaremos recorrer a uma Corte Internacional para tentarmos restaurar alguns
princípios básicos de direito penal e processual penal que foram jogados na lata
de lixo pelo STF. Senão daqui a pouco os eventuais réus das ações penais terão
que provar suas inocências através das terríveis ORDÁLIAS que eram utilizadas
nos macabros julgamentos pelo tribunal da inquisição.
Jorge
André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
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